16 de dez. de 2012

Cruzeiro à Antártida: a passagem pelo Drake


passagem de Drake (ou passo lde Drake) é lendária entre navegantes e amantes de travessias como o mar mais agitado do planeta. Trata-se do trecho de oceano entre a Terra do Fogo e a Antártida, concentrando, ora pois, as piores condições meteorológicas marítimas do mundo o.O
A verdade é que (Sir) Frances Drake, que batizou o trecho, na verdade, jamais passou por essas bandas - ele circulou mesmo foi pelas também agitadas águas do estreito de Magalhães - águas essas cuja agitação quem já foi ao Cabo Horn conhece muy bien. 
 Nas águas do Drake já morreu muita gente, sobretudo das primeiras missões de exploração antártica: como quase não há terra na mesma latitude do Drake (são só as ilhotas Diego Ramirez), as correntes antárticas circulam por ali com força total. 
Então quem viaja à Antártida já sabe que vai encontrar, antes de chegar à última fronteira, muuuuuuito movimento no seu barco. Durante o jantar do nosso dia de embarque no cruzeiro, o médico à bordo (o ultra paciente e atencioso Dr. John, ou JB) advertiu a todos que tomassemos algo para os enjoos antes de dormir. Algumas pessoas (incluindo staff) já tinham colocado seus patches anti-enjôo antes mesmo do jantar. Eu, como nunca tive enjoos no mar, tinha levado uma caixa de Dramin, por sugestão da minha médica; mas JB disse que, para o Drake, Dramin era muito fraco (ui!) e me deu um comprimido de Prometazina (25mg) - que depois, descobri eu, era o que quase todos os passageiros tinham levado mesmo.
Depois do jantar, percebemos que a coisa vinha fuerte ao ver incontáveis saquinhos de enjoo espalhados por todos os corredores, salas e escadas do navio - e vimos vários deles começarem a serem usados logo depois das 23h.
A noite foi longa. Quase ninguém dormiu. O navio sacudiu que foi uma loucura e passei a maior parte do tempo tentando me equilibrar, entre uma mancha roxa aqui e outra ali, na minha própria caminha. No dia seguinte, segui as recomendações e desci para fazer as três refeições (quando a gente tem enjoo de mar, tem que manter comida no estomago, preferencialmente carbos), socializar um pouco e ver a paisagem da ponte de comando. Não queria perder nadinha, mas tava osso. Rolaram duas palestras, uma pela manhã e outra pela tarde, mas o quórum foi mínimo em ambas. Era difícil a própria movimentação pelo navio e a gente fica zuereta, zureta. Não dava pra ficar nos decks externos (muitíssimo vento e água, ondas quebrando até o deck 5) e a maioria dos passageiros passou o dia recolhido na sua cabine, entre um enjoo aqui e outro ali, dormindo mucho. Quem passou muito mal (foram dois ou três casos) foi atendido rapidinho na enfermaria - me contaram que as injeções são um santo remédio pra quem é mais sensivel nesse ponto. 
Mar mezzo em fúria
Sente só a onda quebrando no deck 5
O navio "decorado" para o Drake
Tripulação e staff disseram que foi um dia normal de Drake, bem dentro do esperado. Na segunda noite a bordo foi ficando mais light. Fiz esse videozinho bizarro quando as coisas já estavam mais calmas (mas reparem q eu não saí da cama pra filmar hehehe)

Foi só pelas 5h do outro dia que a coisa sossegou. Ainda era movimentado, claro, mas como num mar agitado qualquer. Para a tripulação, aquilo era uma calmaria danada em se tratando do Drake - o capitão Yuri me contou que, das 93 travessias do Drake q fez, só em outras 3 tinha encontrado dias tão "calmos" como aquele nosso terceiro dia de viagem. Ufa. Um alívio para nós.
As palestras encheram em todos os horários, o refeitório encheu às refeições e os decks externos do Polar Pioneer ficaram movimentados - foi nesse dia que, extremamente excitados, vimos nosso primeiro iceberg no caminho!
Dali pra frente, nossa viagem foi só alegria. O melhor de tudo? Que a gente sabia que, como o roteiro era flyback, não teríamos que enfrentar o Drake de novo na volta ;)

p.s.: a quem interessar possa, algumas operadoras já estão fazendo roteiros curtinhos, de 5 dias, fly-fly, nos quais as pessoas vão e voltam de avião. Mas eu, honestamente, não recomendo. Só para casos muito extremos de sensibilidade. Como amante do mundo das navegações em geral, e após ter lido tantas histórias incríveis sobre aventuras e desventuras no Drake, eu jamais conceberia uma viagem minha à Antártida sem passar por ele. Como um rito mesmo. 

9 comentários:

WB Logística disse...

Meu que louco, curti muito, e esse navio? Que fantástica expedição de aventura. Parabéns. Quero planejar uma assim.

WB Logística disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arthur disse...

O Oceano Antártico é um redemoinho mesmo. Tem uma edição especial da Superinteressante de 2003 (um álbum de fotos + um livro), de um jornalista da equipe que acompanhou uma viagem da Sea Shepard (dissidência radical do Greenpeace), cujo método de protesto é abalroar pesqueiros japoneses de baleia com o próprio navio! Recomendo. Ah, o vídeo está meio poltergeist ;) BJs e parabéns!!

Mari Campos - Pelo Mundo disse...

hahaha tem tooooda razão, Arthurzito! E vou caçar esse especial, tks!

DeniseKN disse...

Uau, deve ser das experiências únicas de se viver! :D

Continua contando tuuuuuuudo, Mari! :)

gabebritto disse...

Bá, Mari.

BÁ, MARI!

=)

Marcela disse...

Olha... orgulho de vc, viu?
Eu já tinha ouvido falar do Drake mas não sabia exatamente do que se tratava...
Mas concordo com vc: se é pra ir até lá, tem que ir direito! Certeza que esse fly-fly não tem 1/10 da graça e beleza desse cruzeiro...
;D

Unknown disse...

Bom, o vídeo ainda não consegui ver, ma o resto... ��
Bjs,
Lena

Lillian Brandão disse...

Gente, que tensão!

Só de ver os saquinhos pelos corredores acho que eu já ia passar mal. Bom saber que já tem um remédio mais forte que Dramin.
Se o vídeo foi num dia calmo, não consigo imaginar as cortinas no dia tenso! hehehe
Tô adorando as suas aventuras.

Beijos,
Lillian.